A ociosidade estéril

É como se um país inteiro estivesse a viver dentro de Wall Street e a vida das pessoas estivesse dependente dos altos e baixos do mercado”

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Se há uma coisa que os desempregados com que o PÚBLICO falou têm em comum, é recusarem ficar parados ou, como diz o psiquiatra Pedro Afonso, “condenados a uma ociosidade estéril”. O professor na Faculdade de Medicina de Lisboa não tem dúvidas de que quem cai no desemprego com 40 anos é como se estivesse a ser “condenado a uma ociosidade forçada e estéril”. E nem todos lidam com essa circunstância da mesma forma.

São cada vez mais os casos de depressão, associados ao desemprego e à redução dos rendimentos, que lhe chegam ao consultório. “Criou-se em todas as pessoas, estando empregadas ou desempregadas, um sentimento de insegurança em relação ao futuro. A capacidade de planeamento está muito dependente de saber se vamos ter um emprego ou se teremos direito a uma reforma”, sublinha. “Há uma ausência de quantificação do sofrimento que esta crise provocou e com o qual me confronto todos os dias. É como se um país inteiro estivesse a viver dentro de Wall Street e a vida das pessoas estivesse dependente dos altos e baixos do mercado”. Pedro Afonso confessa que por vezes “lhe começam a faltar as palavras de encorajamento”. O importante, diz, é valorizar as coisas positivas, como, por exemplo, a possibilidade de dedicar mais tempo aos filhos.

Estar com os dois filhos é o único “proveito” que Ana, licenciada em Psicologia, de 44 anos e desempregada há dois anos e meio, retira “do jejum de trabalho”. “Conheço-os hoje muito melhor”, diz num testemunho escrito ao PÚBLICO. Porém, há um vazio: “Faz-me falta o stress das decisões, o café da manhã com os colegas, planear o trabalho da equipa, as entrevistas de recrutamento”. Mas, remata, “não sou recém-licenciada, não procuro estágios, não tenho idade até 25 anos, não tenho profundos conhecimentos em três línguas”.

Fonte: excerto de notícia sobre o desemprego do jornal Público 17.05.2014

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